Enem 20 anos: a transformação da maior prova do Brasil



O Exame Nacional do Ensino Médio (
Enem) foi criado em 1998 para avaliar o desempenho dos estudantes no ensino médio. Hoje, 20 anos depois, tornou-se a maior porta de entrada para o ensino superior público e particular do Brasil.
As notas do Enem são aceitas por todas as universidades, centros e institutos federais de educação, por meio do Sistema de Seleção Unificada (SiSU), que ainda oferece vagas em algumas universidades estaduais.
O Enem também é critério para participação em programas como o Universidade para Todos (ProUni) e de Financiamento Estudantil (FIES), que oferecem, respectivamente, bolsas de estudo e financiamento sem juros ou com juros baixos em instituições privadas.

O início

A primeira edição do Enem contou com 63 questões e foi aplicada em único dia, com quatro horas de duração. O tema da redação foi “Viver e aprender”, tendo como único texto motivador parte da letra da música “O que é o que é” de Gonzaguinha. Uma versão bem mais simples da prova de hoje que, além de fornecer diversos textos de apoio, exige dos estudantes uma proposta de intervenção para um problema atual.
Comparação entre as propostas de redação do Enem 1998 e Enem 2017
Em suas primeiras edições, o Enem apenas verificava o desempenho dos estudantes, e as notas não eram utilizadas para ingresso no ensino superior. A intenção do Ministério da Educação (MEC) era ter um método para avaliar a educação no país e, assim, aprimorar as políticas educacionais, especialmente da rede pública.
O Enem 1998 recebeu 157 mil inscrições, sendo que pouco mais de 115 mil compareceram às provas. Número bem inferior aos milhões de estudantes que participam atualmente do exame.

As primeiras mudanças

Em 2001, apesar de não ter alterado a estrutura do Enem, o Governo implantou uma mudança no exame, concedendo isenção da taxa de inscrição aos estudantes da rede pública. Um reflexo dessa mudança foi o aumento considerável no número de inscritos, que subiu de 390 mil participantes no ano 2000 para mais de 1,6 milhão em 2001. Um crescimento de mais de 400% de um ano para o outro.
Nas duas primeiras edições, os inscritos no Enem pagaram uma taxa no valor de R$ 20. Em 2000, o custo subiu para R$ 35. Outra mudança da época foi no tempo de duração das provas, que passou de quatro para cinco horas. 

Um novo Enem

Com a criação do Programa Universidade para Todos (ProUni) no início de 2005, o número de inscritos no Enem cresceu consideravelmente. O ProUni foi criado para conceder bolsas de estudos, parciais e integrais, em instituições privadas, com base nas notas do Enem.
A novidade atraiu especialmente aqueles que já haviam concluído o ensino médio. Em 2006, das 3,7 milhões de inscrições que o exame recebeu, mais 1,6 milhão foi de participantes que já tinham terminado seus estudos em anos anteriores.
As mudanças no Enem continuaram e, em 2009, as provas foram totalmente reformuladas para que o exame se tornasse o principal meio de entrada nas instituições federais. Assim, o Enem aumentou de 63 para 180 questões, além da redação, e passou a ser aplicado em dois dias (sábado e domingo).
Também em 2009 a prova foi dividida nas quatro atuais áreas do Enem: Ciências Humanas; Ciências da Natureza; Linguagens e Códigos; e Matemática. Cada prova contém 45 questões, além da proposta de redação. As questões ficaram mais complexas, com enunciados mais longos e com caráter ainda mais interdisciplinar.

Transtornos em 2009

O uso das notas do Enem para ingresso no ensino superior público chamou a atenção das quadrilhas especializadas em fraudar vestibulares. Ainda em 2009, uma versão do caderno de provas foi furtado na gráfica.
Esse primeiro contratempo fez com que a aplicação do exame fosse cancelada e remarcada para uma nova data. Na época, o prejuízo com a confecção de novas provas chegou a R$ 45 milhões, prejudicando mais de 4,1 milhões de estudantes inscritos.
Algumas universidades que aceitariam as notas do Enem para ingresso em 2010 abandonaram o uso do exame. Foram os casos da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que não puderam usar as notas do Enem em seus vestibulares em virtude do atraso na divulgação do resultado.
Os transtornos ocorridos e a remarcação das provas para uma data posterior à de muitos vestibulares fizeram com que muitos estudantes desistissem de participar do Enem 2009. Isso resultado no maior índice de abstenção da história do Enem: 37,7% de ausentes.
Outra falha nesta edição polêmica do Enem foi na divulgação dos gabaritos. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou gabaritos imprecisos porque confundiu as cores dos cadernos de provas. Cada dia de prova do Enem contém quatro cadernos, cada um de uma cor e com uma ordem de questões. O erro foi corrigido e os gabaritos corretos foram publicados dias depois.

Fraudes

Além do vazamento das provas em 2009, o Enem teve outras tentativas de fraudes nestes 20 anos de existência. Especialmente depois da criação do Sistema de Seleção Unificada (SiSU), em 2010, o exame passou a ser muito visado e alvo de organizações criminosas que tentaram fraudar as provas.
Nas edições de 2011 e 2014, surgiram denúncias de vazamento de questões antes da aplicação das provas. Em 2011, um professor do Piauí teria usado algumas questões do exame em testes feitos com seus alunos. Já em 2014, imagens das provas teriam circulado pelas redes sociais horas do exame começar.
A Polícia Federal, que atua na distribuição das provas para garantir a integridade do Enem, já deflagrou algumas operações para investigar quadrilhas. Vários equipamentos foram apreendidos e alguns estudantes que teriam se beneficiado de esquemas fraudulentos foram eliminados.

Segurança

Ao longo dos anos, diversas medidas de segurança foram implementadas para evitar as fraudes. Além da revista feita com o detector de metais e as embalagens para guardar objetos, o monitoramento das redes sociais é realizado durante a aplicação do Enem desde 2012, fiscalizando possíveis publicações com imagens das questões ou dos locais de provas.
Em 2016, os aplicadores passaram a coletar os dados biométricos dos candidatos. Com essas informações, a organização evita que outra pessoa faça a prova no lugar do inscrito.
Novas medidas de segurança foram anunciadas para o Enem 2018. A partir de agora, poderão ser revistados também os artigos religiosos portados pelos participantes, como burca e quipá. Também serão examinados os itens que podem ser solicitados durante a inscrição, como máquinas perkins, reglete, punção, lupa, luminárias e/ou tábuas de apoio ou outros itens previstos em edital.

Mudanças recentes

A partir de 2015, as notas do Enem passaram a ter uma nova função, sendo um dos critérios para inscrição no Fundo Financiamento Estudantil (Fies). O programa exige uma média de 450 pontos nas provas do Enem e nota acima de zero na redação, em edições a partir de 2010.
Para o Enem 2017, o MEC convocou uma consulta pública para que a população pudesse opinar sobre a estrutura do exame. Com essas informações, novas modificações foram anunciadas para aplicação das provas.
A grande novidade foi nos dias de provas, que antes eram em dias consecutivos, passaram a ser com uma semana de diferença, em dois domingos seguidos. A ordem de aplicação das provas também foi invertida. Veja como ficou:

Entre as edições de 2009 e 2016 do Enem, os participantes puderam usar suas notas para conseguir certificado de conclusão do ensino médio. A partir do Enem 2017, com as mudanças aplicadas, isso deixou de ser possível. Desde então, esse tipo de certificado só pode ser obtido por meio do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja).
Em 2016, mais de 400 locais de provas estavam ocupados por manifestantes, impedindo que mais de 270 mil estudantes realizassem as provas na data prevista. Diante dessa situação, o MEC realizou uma segunda aplicação do Enem no início de dezembro daquele ano.

Enem 2018

No ano em que completa duas décadas de existência, novas modificações no Enem foram anunciadas. Uma delas envolve o processo de isenção da taxa, que passou a ser anterior ao prazo de inscrição. Além dos pedidos de isenção, os candidatos isentos e ausentes na edição anterior tiveram que justificar a falta para solicitar novo benefício.
Outra novidade do Enem 2018 é em relação ao tempo de prova do segundo dia. A partir desta edição, os participantes terão 30 minutos a mais para responder as questões de Ciências da Natureza e Matemática e suas Tecnologias, passando de 4h30 para 5h.